Enlouqueça o agente literário
PublishNews, 01/06/2010
Marisa Moura dá 10 dicas sobre como deixar seu agente maluco

A rotina dos agentes é sempre sobrecarregada: leituras de propostas, contratos, negociações, conciliações, prestação de contas, telefonemas, correspondência e outros. E para piorar, como autor ou cliente, você pode enlouquecer um agente. Veja como:


1. No primeiro contato, relate que escreveu um romance e quer que ele o publique (de preferência de forma bem confusa, com erros de gramática e sem maiores explicações, pois assim você garante que ele perca tempo decifrando).

Sinto avisar que quem publica é a editora e que o caminho até lá não é tão simples assim.

2. Mande um e-mail às 10 horas da manhã e telefone 15 minutos depois para saber se ele já leu.

O agente, além de receber inúmeros e-mails por dia, participa de reuniões, recebe pessoas em seu escritório e tem de dar conta de inúmeras tarefas (muitas inadiáveis) relativas aos trabalhos em que já está envolvido. Portanto, aguarde sua vez, pois o agente não o deixará sem resposta.

3. Leia no site do agente que ele não representa o gênero do seu texto e mesmo assim escreva, achando que a sua obra ele tem de trabalhar.

Tente imaginar um agente, sabendo que você escreve sobre medicina, decidindo que você terá de fazer uma novela juvenil (sem que você queira isto).

4. Quando o agente, após conversar com você, ponderar sobre todos os seus interesses e apresentar a minuta do contrato (entre autor-agente ou entre autor-agente-editora), deixe a avaliação final para seus filhos, amigos ou vizinhos, que até podem ser advogados, mas não são especialistas em direitos autorais – e então resolva incluir ou excluir itens inapropriados, ou que não serão bons para você.

Por favor, lembre-se de que, principalmente hoje, quando as leis de direitos autorais estão sendo revistas e questionadas, o agente procura assegurar as melhores condições atuais e futuras para você.

5. Decida que vai querer participar de um evento e, na última hora, ligue para seu agente e implore para ele desmarcar tudo. E pense que ele tem de inventar a razão pela qual você desistiu.

A palavra de um agente é sua honra, portanto, ajude seu agente a ser digno do que fala e escreve – do contrário, você também sairá desacreditado.

6. Resolva todos os negócios de suas publicações com todo mundo que desejar, menos com seu agente. Que ele seja o último a saber.

Como você se sentiria vendo em seu novo livro (já nas livrarias) diversos trechos alterados sem que você tivesse sido consultado?

7. Decida que terceiros negociarão com seu agente as questões relativas aos seus direitos autorais. Depois, quando se achar prejudicado, reclame do seu agente.

Você mesmo precisa assumir essas decisões em comum acordo com seu agente, não escape desta responsabilidade.

8. Reclame muito, em público, do mercado editorial (dos pagamentos de direitos autorais, das feiras de livros, dos produtores culturais, agentes, editores, outros escritores etc.).

Sim, todos sabemos que é um mercado com suas singularidades, contudo, vivemos nele e você continua escrevendo, então, não se indisponha com quem trabalha com seus livros... Lembre-se: seu trabalho é sério e merece ser publicado.

9. Repasse para seus amigos e inimigos todas as informações sobre aquilo que seu agente planejou só para você.

Acontece que cada caso é um caso; a mesma razão que o ajuda pode ser desinteressante para outro parceiro de escrita.

10. Nunca tente esclarecer com seu agente o que não entendeu.

Se você perde todas as chances de fazer perguntas simples antes que as coisas (nem sempre agradáveis) aconteçam, não vá, depois, querer cobrar do seu agente.

A ilustração é de Déda Zagottis.

[31/05/2010 21:00:00]