São Paulo, segunda-feira, 05 de janeiro de 2009

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Romance cult inspira jovens muçulmanos

Por CHRISTOPHER MAAG

CLEVELAND - Cinco anos atrás, jovens muçulmanos em todos os EUA começaram a ler e a divulgar em fotocópias malfeitas um romance chamado “The Taqwacores”, sobre roqueiros punks muçulmanos em Buffalo, no estado de Nova York. “Esse livro me ajudou a criar minha identidade”, disse Naina Syd, 14, aluna do ensino médio em Coventry, Connecticut.
Muçulmana e nascida no Paquistão, Naina passou horas ao telefone escutando sua irmã mais velha ler o romance para ela. “Quando finalmente li o livro, foi uma experiência incrível.”
Saído da imaginação de Michael Muhammad Knight, o romance inspirou jovens muçulmanos rebeldes nos EUA a formar bandas punks muçulmanas de verdade e a construir sua própria subcultura.
Hoje o sucesso subterrâneo do punk muçulmano resultou em um filme independente baseado no livro. Um grupo de artistas que vive em uma casa comunitária em Cleveland, chamada Torre da Traição, ofereceu o local como cenário para o filme. As filmagens começaram em outubro, e o filme será lançado este ano, disse o diretor, Eyad Zahra.
“Ver esses personagens que costumavam viver só dentro da minha cabeça andando por aí e pensar em todos esses jovens vivendo partes do livro é totalmente surreal”, disse Knight, 31, ao chegar ao set de filmagem. Nascido irlandês católico no interior de Nova York, ele se converteu ao islamismo na adolescência.
Como parte do cenário, um músico de rock punk muçulmano, Marwan Kamel, 23, pintou “Osama McDonald”, uma figura com o rosto de Osama bin Laden no corpo de Ronald McDonald. Kamel disse que a pintura era um protesto contra o imperialismo das empresas americanas e contra o wahabismo, a forma mais rígida de islamismo.
Noureen DeWulf, 24, uma atriz que interpreta uma roqueira no filme, defende sua mensagem. “Sou muçulmana e sou 100% americana. Por isso posso criticar minha fé e meu país. Rebelião? Punk? Isso é totalmente americano”, disse.
O título do romance combina “taqwa”, palavra árabe que significa “piedade”, com “hardcore”, usada para descrever vários gêneros de música ocidental rebelde. Para muitos jovens americanos muçulmanos, o livro se tornou um guia para a vida.
“Ler o livro foi uma libertação total para mim”, disse Areej Zufari, 34, muçulmana e professora de ciências humanas no colégio comunitário Valencia, em Orlando, Flórida. Zufari disse que havia escutado música punk na juventude em Arkansas e descobriu “The Taqwacores” há quatro anos. “Ali estava alguém tão frustrado com o islamismo quanto eu e que expressou isso usando bandas de que eu gosto, como os Dead Kennedys. Tudo se juntou.”

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