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Pamuk investiga mistérios da Turquia
Ganhador do Nobel de 2006 terá "O Livro Negro", que considera seu principal romance, lançado no Brasil em novembro
Autor diz que liberdade de expressão "melhorou" em seu país, mas não perde a chance de criticar o governo na Feira de Frankfurt
Arne Dedert - 14.out.08/Efe
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O turco Orhan Pamuk ("Meu nome é Vermelho", "Neve"), na abertura desta edição da Feira do Livro de Frankfurt, na última terça, da qual foi convidado de honra
EDUARDO SIMÕES
ENVIADO ESPECIAL A FRANKFURT
Convidado de honra da 60ª
Feira de Frankfurt, que terminou ontem, o escritor turco Orhan Pamuk, premiado com o
Nobel em 2006, viu com otimismo a participação da Turquia como país homenageado
do evento neste ano.
Logo no discurso na abertura
da feira, no entanto, não perdeu
a chance de criticar, diante do
presidente da Turquia, a ainda
precária liberdade de expressão de compatriotas que, como
ele, já foram acusados de insultar a identidade turca.
Em entrevista à Folha anteontem, Pamuk disse que "as
coisas estão melhorando", mas
que não se pode parar de criticar quando se tem oportunidade: "O que importa é quantos
escritores ainda estão presos
ou sendo processados".
Em novembro, sai no Brasil
"O Livro Negro", romance de
1990 que Pamuk considera o
mais importante em sua bibliografia porque apresenta "o estilo" que viria a ser marca de sua
obra. O escritor, que esteve no
Brasil na Flip 2005, volta no
fim do ano para fazer palestras.
Leia trechos da entrevista.
FOLHA - Como avalia a participação da Turquia em Frankfurt? Sinal
de mais liberdade de expressão?
PAMUK - Uns dez ou 15 autores
turcos foram publicados por
boas editoras na Alemanha, o
que é importante. O resto é o
trabalho da indústria do turismo do país, o que não me interessa. Talvez as coisas estejam
melhorando. Mas há ainda
muitos autores presos ou indo
a tribunais. Até mesmo em ditaduras as pessoas dizem que as
coisas estão melhorando o
tempo todo, e isso não significa
nada. O que importa é quantos
escritores estão presos ou sendo processados. As coisas estão
melhorando, mas não quer dizer que devemos parar de criticar se temos a oportunidade.
FOLHA - "O Livro Negro", de 1990,
será lançado em novembro no Brasil. Qual a importância dele?
PAMUK - Ele é muito importante para mim. No momento, estou planejando o segundo volume da minha autobiografia [o
primeiro, "Istambul", foi lançado em 2007 no Brasil]. Ele vai
mostrar como eu me transformei de uma pessoa normal em
um romancista. Será uma mistura de relato da minha vida
pessoal, como foi "Istambul", e
um livro sobre a arte do romance. Este volume terminará com
a publicação de "O Livro Negro", em março de 1990, quando eu, após 17 anos de luta para
publicar meus livros e sem ser
editado na Turquia, finalmente
encontro minha voz e estilo
original e lanço meu melhor romance. Talvez não seja o mais
popular, mas é o mais querido
para mim. Na essência, o que eu
faço em literatura nasce aí.
FOLHA - A crítica disse que "O Livro
Negro" é um romance policial que
tem Istambul como um personagem central, que é um exercício de
narrativa pós-moderna. Qual avaliação é verdadeira?
PAMUK - Ambas. É a história de
um advogado em busca de sua
mulher, que desaparece em Istambul. Está implícito que ela
talvez esteja com um primo,
um famoso colunista turco. Em
alguns capítulos, lemos as suas
colunas, que parecem ter pistas
de onde estão. O advogado se
torna uma espécie de detetive
amador à procura de sua mulher por toda a cidade. Parece
um romance policial, mas não
se trata de "quem matou
quem". Mas sim de procurar
pistas num mar infinito de possibilidades que é a própria cidade, com suas várias camadas de
história, cultura popular, mistérios, segredos, grupos religiosos, submundos. E a narrativa
também traz camadas e camadas de histórias...
FOLHA - Num artigo publicado em
2006 pelo "Herald Tribune", o sr. critica a idéia de que um intelectual de
um país pobre e não-ocidental deveria se ocupar dos problemas locais
em vez de arte e literatura. O sr.
também já declarou que não quer
ser uma mera "ponte" entre Ocidente e Oriente. Afinal, qual seu papel político como escritor?
PAMUK - No artigo eu citava
Jean-Paul Sartre, que disse
que, se fosse um intelectual de
Biafra, seria um professor, não
um escritor. Eu discordo dele.
Mas sou essencialmente um escritor de obras literárias. Claro
que a Turquia é um país com
problemas. No entanto, esqueça isso de Ocidente e Oriente. É
como perguntar a Clarice Lispector o que ela achava do norte e do sul. Ela pode até ter usado a ficção como desculpa para
falar de tais questões. Mas não
trabalho com clichês. Sou um
escritor que fala do passado,
dos mistérios da Turquia. Minha intenção não é representar
o país, a não ser que esteja falando de mim. É como acredito
que minha literatura deva ser.
A expressão dos sentimentos
fortes que trago em mim.
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