Pub-Livro, gaúcho de nascimento, brasileiro por vocação
PublishNews, Redação, 16/11/2017
Saiba como foi a primeira edição do Pub-Livro: Encontro PublishNews de Profissionais do Livro, que aconteceu na última terça, dentro da programação da Feira do Livro de Porto Alegre

Embora fora do eixo Rio - São Paulo, que acaba sendo aquele que dita o ritmo da indústria editorial brasileira, o Rio Grande do Sul é reconhecido pela sua relevância no setor e celeiro de autores, editores e livreiros. Berço de grandes nomes da literatura nacional como Érico Verissimo, Mario Quintana e Caio Fernando Abreu, o estado é ainda a sede de editoras importantes como a L&PM e o Grupo A, além de ser ainda um dos três estados brasileiros a oferecerem um curso de graduação em Produção Editorial (os outros são justamente São Paulo e Rio). Não foi à toa, então, que nasceu ali um novo “filhote” do PublishNews. É que, a convite e com o apoio da Feira do Livro de Porto Alegre, nós orgulhosamente realizamos na última terça-feira (14) a primeira edição do Pub-Livro – Encontro PublishNews de Profissionais do Livro.

Plateia acompanha o Pub-Livro | © Leonardo Neto
Plateia acompanha o Pub-Livro | © Leonardo Neto

Em seu discurso de abertura, Carlo Carrenho, fundador do PublishNews, agradeceu a Câmara Rio-Grandense Do Livro (CRL) e revelou a vontade de fazer o evento em mais cidades também. “O sucesso de um evento como esse é que a curadoria tenha liberdade e a Câmara [Rio-grandense do Livro, entidade que realiza a feira] deu completa liberdade para a gente montar a programação como quis”, disse. O tema que norteou as mesas foi “O passado, o presente e o futuro do livro e de sua indústria” e, dentro desse mote, o passado foi lembrado pela emocionante homenagem a Henrique Kiperman e pela celebração aos 20 anos da Coleção de Bolso da L&PM. Trazendo para o presente, editores e livreiros debateram as suas realidades e ainda lançaram o olhar para o futuro.

'O livro digital ainda nem começou' ressaltou Marcelo Gioia na mesa 'Livros digitais: fracasso ou oportunidade?' | © Leonardo Neto
'O livro digital ainda nem começou' ressaltou Marcelo Gioia na mesa 'Livros digitais: fracasso ou oportunidade?' | © Leonardo Neto
O futuro, que aliás, foi também a tônica da palestra de abertura, proferida por Carrenho. Para ele, a dificuldade no varejo vai continuar, mas ele disse acreditar “que haverá espaço para as livrarias independentes irem comendo pelas beiradas”. Ele apresentou ainda um gráfico com a evolução do mercado editorial nos últimos dez anos e salientou que é necessário analisar o mercado dos últimos dez anos e não só dos dois últimos anos de crise. “As outras indústrias do entretenimento estão crescendo e devemos aprender a interagir com elas”, pontuou. Ele ainda falou sobre o boom do audiolivro, já realidade mundo afora, e que deverá ganhar força com a chegada de players internacionais em 2018.

Carrenho falou ainda sobre selfpublish e o marketplace, conceitos que, na sua avaliação, vão ganhar ainda mais terreno em 2018. “O marketplace era a única barreira que não estava democratizada, agora você consegue vender o seu livro a partir dessa plataforma”, avalia. A autopublicação, também continua com força. Nesse momento, Carrenho mostrou uma tela com dez os livros digitais mais vendidos da Amazon no dia anterior (13/11) e 80% deles eram de autores que se publicaram. Essas tecnologias também podem ajudar as editoras de cunho independente.

A programação depois seguiu com a mesa Livros Digitais: Fracasso ou Oportunidade, com Marcelo Gioia, da Bookwire Brasil; Rafael Trombetta, da LiquidBook; e Mônica Timm, da Elefante Letrado. Gioia relembrou a fala de Carolyn Reidy, presidente e CEO da Simon & Schuster, a quinta maior editora dos EUA, que disse na última Feira de Frankfurt que o livro digital ainda nem começou para explicar inclusive os números relativamente baixos apontados pelo Censo do Livro Digital. O estudo realizado pela Fipe a pedido da Câmara Brasileira do Livro (CBL) e do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) apontou que 63% das editoras brasileiras ignoram o digital.

Leonardo Neto, editor do PublishNews, entrevista Paulo Lima, fundador da L&PM | © Eduardo Cunha
Leonardo Neto, editor do PublishNews, entrevista Paulo Lima, fundador da L&PM | © Eduardo Cunha
Na sequência, Paulo Lima, o “L da L&PM”, quebrou um jejum de seis anos e subiu ao palco, coisa que não fazia desde 2011, para falar sobre a trajetória da empresa que criou com Ivan Pinheiro Machado. Ele, além de resgatar a história da editora dona da mais vigorosa coleção de bolso do país, defendeu que os elos da cadeia do livro precisam ser respeitados: “eu não quero ser um editor que vende livros. Quero que o livreiro faça isso”, disse. Além disso, ele relembrou os períodos da mão pesada da ditadura e de como foi desafiador criar a Coleção de Bolso da L&PM, que acabou virando um case de sucesso em nível mundial. Parte da entrevista que Paulo Lima concedeu pode ser acessada clicando aqui.

Para fechar a manhã, ainda rolou um debate sobre os novos modelos de venda livros, com Volnei Canônica, do Clube de Leitura Quindim; Gustavo Lembert, da TAG Livros; Fernanda Scherer, da Editora Piu; Anselmo Bortolin, da Meta; e Eduardo Oliveira, de F1 Soluções. Eles falaram sobre os novos caminhos que os livros podem percorrer para chegar aos seus leitores: os clubes de assinatura, as pré-vendas via financiamento coletivo, as possibilidades de um editor ou de um livreiro com os marketplaces e as oportunidades que a impressão pode demanda podem oferecer.

À tarde, o seminário seguiu propondo uma reflexão sobre os cursos de escrita criativa e de editoração e o impacto deles no mercado editorial. Para isso, estiveram presentes duas duplas de professor-aluno. De um lado, a professora Marília Barcellos, do curso de editoração da Universidade Federal de Santa Maria, e Cassio Aguiar, ex-aluno do mesmo curso, e do outro, o professor Altair Martins, do curso de Escrita Criativa da PUC-RS e a sua aluna Carolina Jacoby. Eles deram ênfase ao diálogo que esses cursos promovem com outras indústrias, como a do audiovisual e a dos games.

Em seguida, o jornalista Alexandre Lucchese, do jornal Zero Hora, entrevistou quatro editores independentes gaúchos: Gustavo Guertler (Belas Letras), Flávio Ilha (Diadorim), Tito Montenegro (Arquipélago) e Rodrigo Rosp (Dublinense e Não Editora).

O desafio de ser livreiro também foi pauta do seminário, com a presença de Ederson Lopes (Livraria Taverna), Delamor D’Avila Filho (Cameron) e Ronaldo Martins (Livraria Cultura) e mediação do jornalista Carlos André Moreira, também do jornal Zero Hora. O proprietário da rede Cameron afirmou que “a Câmara Brasileira do Livro e a Câmara Rio-Grandense do Livro possuem um papel importante de formação de leitores”. Ele também ressaltou a importância de manter a essência do livreiro, com um atendimento especializado. Para Reinaldo, “é na crise que aparecem as ideias, portanto o diferencial das obras físicas é importante”. Ederson contou que a livraria Taverna aposta no público de nicho, com livros independentes e da área de ciências sociais. “É uma relação de afeto, um diferencial contra o ambiente hostil do consumo”, disse.

Adriane e Celso Kiperman, na homenagem ao pai | © Leonardo Neto
Adriane e Celso Kiperman, na homenagem ao pai | © Leonardo Neto

O evento foi encerrado com uma emocionante homenagem a Henrique Kiperman, fundador do Grupo A morto no último mês de setembro. Seus filhos – Celso e Adriane – relembraram a trajetória do pai, de como começou a vender livros e o império que construiu. Celso se emocionou ao lembrar a primeira vez que foi levado pelo pai à Feira do Livro de Frankfurt para onde levou, nesse ano, o filho e o sobrinho (filho de Adriane). “Quis fazer com eles como fizeram comigo”, disse segurando as lágrimas. A homenagem foi transmitida ao vivo pelo perfil do PublishNews no Facebook e pode ser acessado clicando aqui.

Ao fim do evento, os participantes foram convidados para um happy hour no Boteco Histórico que contou com o patrocínio da Meta Brasil, plataforma de impressão por demanda.

[16/11/2017 09:29:00]