Mudar as atitudes, estabelecer padrões: um bem para toda a cadeia livreira
PublishNews, Eduardo Cunha, 16/02/2016
Em artigo de opinião, Eduardo Cunha, diretor comercial da BookPartners, fala sobre a importância de padronizar elementos da produção de livros na busca de melhorar a cadeia do livro no Brasil

No ano passado fui convidado para um bate-papo no clube de editores gaúchos para falar dos desafios da distribuição de livros no Brasil. Organizando o material para apresentação, ficou muito claro como formamos uma indústria praticamente sem padrão. Vejo editoras muito organizadas e não necessariamente grandes, mas a imensa maioria falha no básico, que é a informação, também conhecida como "metadado atualizado”. Insisto muito em todas as reuniões que participo com editoras de todos os portes que os três fatores que fazem um livro vender 1 ou 1 milhão são a Divulgação, a Informação e a Disponibilidade e, infelizmente não vejo nenhum esforço das nossas entidades de classes em criar padrões melhores para indústria.

Não somos capazes de decidir se o título da lombada deve ser escrito de baixo para cima ou de cima para baixo. Talvez poucas pessoas pensem sobre a real importância disso na organização de uma prateleira na livraria. Veja na foto abaixo quantos títulos de ponta-cabeça.

Minha sugestão é que deveríamos criar URGENTEMENTE manuais de boas práticas de mercado por meio de nossas entidades.

As regras tributárias estão cada vez mais complexas e as gambiarras não cabem mais. Por exemplo, com o advento da NFe 3.0 e os aumentos constantes de preços, as consignações ficaram com a situação fiscal precária. O modelo criativo do nosso mercado sempre foi a troca de nota fiscal - operação ilegal muito usada. O correto para evitar a devolução formal seria emissão de uma nota fiscal complementar de preço. Na BookPartners recebemos até hoje apenas NFes complementares de meia dúzia de editoras, o que já seria motivo para comemorar, mas cada nota que recebemos tem modelos diferentes, algumas com desconto no item, outras sem quantidade, sem valor etc. Ou seja, cada editora fez de um jeito. Mais uma vez cadê o padrão? De que forma devemos customizar os sistemas?

Vivemos um momento de muita qualidade editorial em vários aspectos: textos, produção gráfica, autores pops que se transformaram em verdadeiras estrelas. Muitas editoras criando produtos maravilhosos, mas que precisam parar de errar no básico.

Abaixo cito alguns exemplos do que chamo de errar no básico e suas simples soluções:

1. ISBN em tamanhos pequenos e de cores diferentes - sei que o fundo vermelho é lindo, as barras douradas ficam maravilhosas, mas editor, saia do Olimpo e não invente! Os leitores e buscadores de código de barras não conseguem ler tais informações.

2. Colocar código interno de produto na nota - para que serve isso?

A melhor prática é ISBN, nome do livro, preço de capa, percentual do desconto e valor total por linha. Editoras têm clientes que são livrarias e distribuidores de todos os tamanhos, então, tal prática facilitará.

3. Cadastre e ATUALIZE seus metadados em algum portal de metadados. Na Book temos o Portal do editor que dividimos as suas informações com o mercado. Outra iniciativa muito interessante é a do mercadoeditorial.org que, em breve, também estará integrado com diversos players do nosso mercado.

4. O ISBN é para ser usado um por edição. Usar o mesmo em outras edições atrapalha a cadeia toda. Outro dia recebemos uma pilha de livros com seis edições diferentes e o mesmo ISBN.

5. Tenha no site da sua editora as informações de metadados em formato adequado, por ano, assunto, capa em alta e com links de fácil forma para downloads.

Sempre ouço falar que o mercado só passou a usar ISBN no dia que uma grande cadeia de livrarias os obrigou. Quem sabe um dia, alguém ou alguns vão obrigar os editores a dar outro salto de qualidade como o uso de RFID no livro desde a gráfica? Mas isso é papo para outro artigo, por hora vamos fazer o BÁSICO.


Graduado em Marketing e Administração, MBA em Gestão Empresarial pela FGV, ingressou no mercado editorial na Revista dos Tribunais em 2002, onde atuou no departamento comercial até meados de 2006. Em 2008 retornou ao grupo RT e passou a gerir a Vértice Books que, na época, com pouco mais de 10 colaboradores. Desde então, participou e participa de todos os projetos de expansão e, do Grupo BOOKPartners como Diretor Comercial, liderando um time 220 colaboradores em quatro unidades de negócios.

[15/02/2016 23:19:56]