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Edição e mercado de LIJ na Jornada de Passo Fundo
PublishNews, 29/08/2011
LIJ e as lições de Passo Fundo

Impossível passar batido e escrever qualquer coisa que não seja sobre Passo Fundo, quando se está mergulhada no ritmo da Jornada Literária. Festa, circo, jornada, tudo menos feira, como em alguns momentos foi identificada. Passo Fundo é a Capital Nacional da Literatura desde 2006 e não é para menos. O que a equipe de voluntários, regida com bravura, intensidade, tenacidade e entusiasmo por Tania Rösing, faz para receber a centena de convidados nacionais e internacionais, atendê-los, cuidá-los, é impressionante. E o que faz a cada edição da Jornada, para animar e oferecer ao público de crianças, jovens e adultos, é surpreendente.

Festejando seu 30º aniversário (1981 – 2011), a 14ª Jornada Nacional de Literatura celebrou as letras, as artes, as inovações tecnológicas, dividindo o mesmo palco com figuras como Pierre Levy e suas previsões filosóficas futuristas, Alberto Manguel, Peter Hunt, Beatriz Sarlo e nomes da literatura nacional do primeiro time. Literatura, filosofia, música, formação de leitores, literatura infantil e juvenil, contação de histórias e patrimônio tiveram espaço e se entrecruzaram nas diversas tendas e na diversidade de eventos que compuseram a intensa programação que se estendeu de 22 a 26 de agosto.

A 6ª Jornadinha correu solta, em paralelo, propiciando às crianças e jovens da região contato com uma diversidade de autores e de atividades culturais. O diferencial desse evento sempre foi o fato do seu público ter conhecimento prévio das obras dos autores convidados por meio do trabalho preparatório regular, realizado ao longo de todo o ano que antecede as Jornadinhas. Professores e alunos são mobilizados mensalmente para ler e receber autores convidados. A dimensão dessa ação segue o modelo da grandiosidade de tudo nas Jornadas. Neste ano, mais de 30 autores, ao longo dos 4 dias, se revezaram para dar conta de uma média de 5 mil crianças por dia.

No meio de tudo isso realizou-se, de terça a sexta de manhã, o “Simpósio Internacional de Literatura Infantil e Juvenil – Literatura para crianças e jovens: por um novo pensamento crítico”, sob a coordenação do professor João Luis Ceccantini. Não só pelo horário de início dos trabalhos, 8h30 da manhã, mas pelo frio invernal que envolveu os primeiros dias da Jornada (variando de 0º a 9ºC) era justificável um comparecimento baixo. Mas eis que fomos pegos de surpresa já no primeiro dia, com um auditório cheio de professores e estudantes de literatura.

O tema da primeira mesa foi “Mercado e criação literária” e participaram Ieda de Oliveira (UFRJ), Julia Schwarcz (Companhia das Letrinhas), Miriam Gabbai (Callis) e eu. Surpresas, num primeiro momento, com o forte enfoque editorial proposto para a mesa. Não foi simples identificar a nossa contribuição para um debate com aquela plateia. As conversas que precederam a realização da mesa, além de definir o foco de cada intervenção e de estabelecer uma conexão entre todas, marcou identidades, nos aproximou e reafirmou a importância deste tipo de intercâmbio.

Fechamos a seguinte estrutura para a apresentação: Ieda, única autora e também estudiosa de LIJ, abriria com uma discussão sobre a natureza da LIJ e a criação literária deste gênero. Na sequência, eu falaria sobre o papel do editor como mediador e de sua responsabilidade frente ao mercado e à formação de leitores. Julia daria continuidade, tratando das transformações do mercado de LIJ nos últimos anos e Miriam fecharia com a questão do livro digital.

Aquilo que num primeiro momento parecia não ter muito sentido naquele foro se mostrou altamente pertinente. O encadeamento e a complementaridade das falas desvendaram o amplo campo de discussão existente e o desconhecimento do fazer editorial mesmo para aqueles que estão envolvidos mais diretamente no processo, como os próprios autores. A complexidade das decisões estratégicas, a dificuldade de contrabalançar escolhas editoriais coerentes com a diversidade dos mercados, a incógnita que é a reação do público frente a todo e qualquer lançamento, a responsabilidade que recai sobre o editor e a diferença entre a flexibilidade dentro de um grande grupo editorial e dentro de uma editora independente são aspectos no geral desconhecidos.

O mesmo ocorreu no terceiro dia, quando o tema voltou à tona. Participei da mesa “Temas polêmicos na literatura para jovens” ao lado de Peter Hunt (Inglaterra), Alice Áurea Penteado Martha (UEM) e Rachel Caiano (Portugal). O papel do editor ficou novamente em evidência, como elemento responsável pela manutenção ou superação de certos impasses enfrentados pela literatura juvenil que, diferentemente da literatura infantil, se ressente da falta de critérios claros. Mas esta discussão vale uma próxima coluna.

Essas experiências me fizeram pensar na importância desse intercâmbio e reforçar a convicção, na qual tenho insistido, de como uma reflexão sobre o fazer editorial de livros para crianças e jovens se faz necessária. Não temos tradição no resgate de experiências e histórias editoriais. Um olhar sistemático sobre este fazer não faz parte de nossa cultura, porém é um dos meios de referência e aprendizados fundamentais que podem, a médio prazo, contribuir com uma maior profissionalização de todas as áreas envolvidas na edição.

Em tempos de questionamento e revisão da função do editor, diante dos novos desafios que o livro digital e as novas plataformas impõem, certamente repensar e distinguir o que é próprio e fundamental no fazer editorial me parece um passo importante e decisivo. Quem sabe com base nisso não seja possível resgatar e aprimorar o papel do editor numa versão adequada para novos tempos?

Convite: No próximo dia 30 de agosto entrará no ar o site da Revista EMÍLIA – Leitura e Literatura para crianças e jovens - www.revistaemilia.com.br. Sejam bem-vindos.

Dolores Prades é editora, gestora e consultora na área editorial de literatura para crianças e jovens. É membro do júri do Prêmio Hans Christian Andersen e curadora da FLUPP. É também coordenadora do projeto Conversas ao Pé da Página - Seminários sobre Leitura, e da área de literatura para crianças e jovens da Revista Eletrônica Emília. Sua coluna pretende discutir temas relacionados à edição e ao mercado da literatura para crianças e jovens, promover a crítica da produção nacional e internacional deste segmento editorial e refletir sobre fundamentos e práticas em torno da leitura e da formação de leitores. Seu LinkedIn pode ser acessado aqui.

** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.

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